“Travessia Custosa” é o título do novo livro de Sônia Machiavelli. Escritora e jornalista, a autora não só nos conta sobre fatos ocorridos durante esta pandemia e sobre emoções durante ela vividas, como também busca sentido ao fazer o relato. Por isso, apesar de ser um livro de crônicas, os textos nem sempre são explicitamente crônicas, gênero literário que Sônia domina com maestria.

Muitas vezes o texto se transforma em prosa poética, como é o caso de “Resiliência”, que fala de uma pereira-de-jardim sobrevivente do bombardeio das Torres Gêmeas, em Nova York, ocorrido em 11 de setembro de 2002.

Outras vezes, como em Fernando Sabino, a crônica é também conto. Assim é nas narrativas de pessoas que se recuperaram da Covid-19 ou de outras que perderam entes queridos. Impressionante a intitulada “Roberta”.

E há ainda as crônicas que se mesclam ao ensaio, como em “Heróis Modernos”, onde são assim considerados os profissionais da saúde e outros cuidadores. Termina evocando a gratidão.

Também o prefácio, de Luiz Cruz de Oliveira, denomina-se “Heróis”. O autor, como sempre, encanta com seu poder de síntese e de apreensão do tom maior de uma obra.

Esse tom, a meu ver, está ainda magistralmente sintetizado pela própria autora no último texto, que contempla o título do livro. Sônia sempre foi uma estudiosa e admiradora de Guimarães Rosa, que na sua obra maior, “Grande Sertão-Veredas”, fala-nos da travessia do Liso do Sussuarão, experiência que se assemelha ao que estamos vivendo. Riobaldo e seu bando, numa segunda tentativa, conseguem atravessar o Liso. A questão que fica: atravessaremos nós o Raso (outro nome do Liso)?

Encerrando há o posfácio de Sônia Maria de Godoy. “Olhar a vida nos olhos” é como ela o denominou, iluminando o que Sônia Machiavelli faz ao escrever seu livro, lançado em uma primorosa live em 19/12/2020.

Sua leitura poderá ajudar a visualizar melhor nossa própria postura neste tempo de desafios colossais e oportunidades buscadas na miraculosa esperança.