Adélia Prado diz que “sem arte, sem símbolos, nós morremos, voltamos à barbárie”. Lembra que “o que nos torna humanos não é o que sabemos, mas o que sentimos”. E eu creio na Arte, quando encarada com seriedade, como força humanizadora, como forma de elevação, de universalização. E creio no Artista que, por meio de sua obra, se faz, sim, um humanizador.
Então, eu gostaria de saudar, em nome da Academia Francana de Letras, o professor e escritor Luiz Cruz de Oliveira, nosso confrade, e meu grande amigo, porque é isso o que ele vem fazendo nesses 40 anos de dedicação à Arte da Literatura: tornando mais humanos os que o leem e os que o cercam. Porque Luiz Cruz sempre encarou a literatura como processo de humanização; e exerceu, entusiástica e tenazmente, a sua convicção.
No texto Acendedor de sol, de seu último livro, Cantos e desencantos, lançado no dia 24 do último julho no espaço Café com Prosa, ele diz:
Então, transpus a porta, saí mundo afora.
Fui acender o sol.
De fato, saiu “mundo afora”, para, como diria Drummond, conhecer “duas riquezas: Minas / e o vocábulo”. E para, mais tarde, “ir de uma a outra”, recolhendo cheiro e gosto de mato; de água, de pedra, de terra, de serra... Conhecendo o “substantivo e o som”; provando o chão, o céu, o amaro, o amor, o amaro - e o mel - do amor; abrindo veredas; juntando vogais, verbo e verso; acendendo sóis, além-divisas. Desenhando suas passadas no terreno do sonho e da vigília, como ele mesmo afirma: “Sou sonhador. E viverei sempre dançando com frases, metáforas e palavras que colhi”.
Mas foi em 13 de dezembro de 1941, na mineira Cássia, que Luiz Cruz de Oliveira transpôs sua primeira porta e viu pela primeira vez a luz do sol. Do mesmo livro, Cantos e Desencantos, no texto Aniversário, ele diz:
“Nasci longe daqui, lá do outro lado da serra. Era dezembro”.
O tempo passou. Cruz adotou o Mundo e a Vida fora do ninho e a Vida e o Mundo o adotaram. Da serra mineira ao cerrado goiano, e dele às colinas paulistas, caminhou e cantou. E seguiu a canção: “... passo a passo, venho compondo e cantando a minha estrada”.
Estudou Letras ainda entre mineiras serras, na cidade de Passos. Fora delas, foi bancário de profissão; é Professor, de coração; e Escritor, de coração e de alma.
Radicou-se em Franca, na década de 1970, onde exerceu intensa atividade política e exerceu e exerce, ainda, intensa atividade cultural.
Aqui, fundou o Grupo Veredas de Literatura, por ele coordenado até hoje, tornou-se membro fundador desta Academia, e deu início à Feira do Escritor Francano, assumida agora pela Prefeitura Municipal. Fundou ainda o Grupo Educacional Veredas, que liderou durante seis anos.
Sua produção literária é extensa e inclui crônicas, contos, romances, teatro, ensaios, livros didáticos e biografias.
Sim, “Aqui, passo a passo, [Luiz Cruz] vem compondo e cantando a [sua] estrada”; vem semeando, com entusiasmo e competência, palavras e sonhos. Mas sempre reafirmando a fidelidade às raízes: “O corpo correu mundo [...] mas o espírito permaneceu encarcerado na água do Bicão e no altar da igreja matriz”. Assim, vida afora, Luiz Cruz de Oliveira segue acendendo múltiplos sóis. E, há 40 anos, aclarando veredas e luzindo amanheceres na literatura paulista e na mineira.
Há um sonho, contudo, que acalenta e que não viu materializar-se: A criação, em Franca, de um espaço para o Escritor. Uma casa para abrigar o acervo literário da cidade, as obras aqui produzidas. E abrigar também a Academia Francana de Letras: A Casa do Escritor Francano.
Este, um novo sol que poderia, e deveria, ser ateado com a participação de todos os que amam a arte da Palavra e a veem como força humanizadora.
Seria esta a maior homenagem que se poderia prestar, não só a Luiz Cruz, mas, e principalmente, à Literatura Francana.
Quero deixar essa semente lançada aqui, onde se cultivam as Letras.
E agora, eu gostaria de propor um brinde a Luiz Cruz, este nosso Semeador de Auroras. Sugiro que, para isso, usemos como taças a nossa voz, e como vinho, ou champanha, alguns raios dos muitos sóis que vêm sendo ateados, por ele e por outros semeadores de luz, nos múltiplos lestes literários.
Inicio, colhendo um raio de safra especial, vinda das Gerais; nascida na Serra Saudade e cultivada entre pedras e pepitas, águas e sonhos:
“O menino guardou na capanga a música da chuva e do vento, a cantiga triste que a água do córrego assobiava nas pedras, dançando enquanto rumava para seu voo na cachoeira.”
“Um dia, [...] o homem [...] deixou que um aroma de pedra, de terra e de água e de ternura molhasse o seu coração.”
“E ele começou a percorrer outro caminho pedregoso: o caminho da palavra.”
“... agora, em meio aos seixos, sempre aparece uma pedra preciosa.”
BERÇO,
Do livro Córrego das Pedras