Sem dúvida, César é um grande explorador. Ele vasculha os nossos cofres, as nossas contas, as nossas gavetas, os nossos bolsos e arranca deles o que pode e até o que não pode. César é voraz, inflexível, inapelável. Durante um ano inteirinho ele vem sugando as nossas economias e, como se não bastassem esses ataques rotineiros, no começo de cada ano ele dá a grande mordida. A César pertencem o IPTU, o IPVA, o ISSS, o ICM, o IPI, o IR e o “ VIR”. Com o seu beneplácito são cobradas as tarifas de água, luz, telefone. Por enquanto, só nos resta o ar para encher os nossos pulmões e tirar-nos do sufoco.
Eu não sou contra os tributos. Eles são necessários para que César, isto é, o governo, promova a solidariedade, a paz e o equilíbrio da sociedade. Porém, fico com muita raiva quando os impostos e taxas vão para os bolsos de empresários, políticos e funcionários públicos. A corrupção é um mal que nos aflige e nos revolta. Mas, além da corrupção, há ainda a incompetência que transforma em pó boa parte do dinheiro que entra nos cofres públicos. Se não houvesse corrupção e incompetência nas dimensões em que elas existem, eu pagaria os impostos sem tanta ira e sofrimento.
Alguém já me disse que “fora da corrupção, não há salvação.” Infelizmente, aquilo que escapa da corrupção é absorvido pela incompetência. Tenho comigo uma dúvida cruel: não sei qual é a que dá mais prejuízo ao nosso povo: se a corrupção ou a incompetência .
Porém, prezado leitor, não há outra saída: ou pagamos os tributos devidos ou, então, seremos eternamente perseguidos pelo fisco.
Um amigo meu que, por coincidência, tem o nome de César, Júlio César, foi surpreendido por uma doença incapacitante que o obrigou a fechar a sua fabriqueta de calçados. César, reverso do César estatal, é um homem simples, homem do povo, trabalhador, honesto, cumpridor de suas obrigações. A fatalidade de sua doença obrigou-o a fechar inesperadamente o seu estabelecimento. Como conseqüência, ficaram algumas contas para serem acertadas com o fisco. Maldita hora e malditas contas! O fisco não lhe dá sossego. Só não lhe tiraram a casa de morada e os minguados salários do INSS porque a lei não permite.
A César o que é de César. Todavia, nem todos os “césares” têm a auréola e a qualidade de “Augusto”.
Chiachiri Filho, historiador, criador, diretor por oito anos do Arquivo Municipal e membro da Academia Francana de Letras