Infelizmente, não tive a oportunidade (e nem a grana! ) de assistir ao vivo o desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Dizem (os que foram) que é deslumbrante, inesquecível, encantador. Afirmam que é o maior espetáculo da Terra. E deve ser mesmo. Pela televisão podem-se apreciar as cores, os brilhos, o luxo, enfim, a beleza contagiante do desfile. É um espetáculo em que são colocados em destaque o gênio, a arte, a inspiração, a sensualidade, a inteligência e a organização do povo brasileiro. É o povo, em sua fantasia de gala, que desce dos morros para se mostrar e brilhar na passarela. É o povo que vibra, que pula, que canta, que dança, que se esquece de suas misérias para extravasar um pouco da alegria que lhe resta. É o povo unido em torno de um objetivo que sai às ruas organizado, disciplinado, compenetrado em busca de uma ascensão , de um primeiro lugar, dos aplausos e do reconhecimento pelo esforço. Durante um ano inteiro todos trabalham duro, ensaiam e se preparam para um momento de felicidade sob os holofotes das avenidas.
Na minha opinião, o fenômeno das Escola de Samba deveria ser objeto de um estudo sério não sobre o espetáculo em si que ela apresenta, mas sobre a organização social que ela provoca. Um povo com tanta genialidade, ânimo e vitalidade tem, sem dúvida, muito mais a oferecer à sua Nação e a si mesmo.
As técnicas de organização, disciplina e motivação usadas pelas Escolas de Samba poderiam muito bem ser aplicadas nas ações comunitárias dos bairros e da cidade. Haveria,evidentemente, uma grande melhoria no nível de vida social dos morros, das favelas e das periferias do Brasil.
Não há nada perdido, prezado leitor. Enquanto houver carnaval e um povo alegre e criativo o nosso país poderá ter esperanças. Enquanto o povo pular, cantar e dançar e encontrar nesse pulo, nessa dança e nesse canto as razões de sua momentânea felicidade, o Brasil, certamente, continuará vivo e confiante nos destinos que lhe são prometidos.
Não, não mesmo, não se constrói um país sem a alegria , o engenho, a arte e a vibração de seu povo.
E, por isso, viva o Carnaval! E viva o povo brasileiro! E viva o espetáculo oferecido pelas Escolas de Samba que, segundo o Neguinho da Beija Flor, sustenta-se na contravenção e outros descaminhos.
Chiachiri Filho, historiador, criador, diretor por oito anos do Arquivo Municipal e membro da Academia Francana de Letras