Uns preferem a utilização dos números na identificação das ruas de uma cidade. Na verdade, uma cidade não é feita pela acumulação, pela justaposição , pela soma ou pela multiplicação de números. Uma cidade é construída pelas idéias, pelas ações e sonhos de homens e mulheres, em suma, de inúmeras famílias que, ao longo do tempo, lançaram as bases e , sobre elas, consolidaram uma comunidade. Estou convicto de que as ruas e os logradouros públicos devem ser designados por nomes de pessoas ilustres que tiveram um papel importante na formação de uma cidade. É certo que nem sempre os nomes das vias públicas são de pessoas tão ilustres. É certo que, algumas vezes, o nome escolhido é muito menos pelo seu valor e muito mais pelos votos que uma família numerosa pode dar ao vereador. Porém, na maioria dos casos, a homenagem é justa. No meu entendimento, o nome dado a uma rua não deve ser uma homenagem prestada a um cidadão. É a comunidade que deve sentir-se honrada e orgulhosa de ostentar em uma de suas ruas o nome de uma determinada pessoa.
Em Franca, os nomes de suas vias públicas centrais foram rebatizados, num ato de medo e bajulação, com os nomes dos militares que proclamaram a República. Assim, o nome do fundador da cidade, do primeiro Vigário, do arruador foram dados posteriormente às ruas mais afastadas do centro histórico. D.João VI, que criou a Vila Franca del Rey, não é sequer lembrado.
A Rua Major Claudiano, antiga Rua das Flores, foi, nos inícios da República, mudada para Marechal Floriano Peixoto. Porém, logo após o período presidencial de Floriano, a Câmara de Vereadores teve o bom senso de restituir o nome tradicional, isto é Major Claudiano, cidadão com uma enorme folha de serviços prestados à cidade.
É bom saber que em Franca, as ruas e logradouros têm nome de gente, gente ilustre (a maioria, pelo menos ) que ajudou a construir a cidade. Identificam-se também por acontecimentos históricos, datas memoráveis. Ostentam também nomes de ideais, de coisas, de sonhos e desejos. Enfim, são sempre nomes e não números frios e inexpressivos. No residencial Paraíso, por exemplo, há uma rua com o original e sugestivo nome de Rua do Bem-querer. Lá minha filha escolheu o seu cantinho para morar. Ela casou-se em março sem pompa, sem circunstância, sem festa , sem comes e bebes, sem convidados. Mas, certamente, foi de papel passado porque, neste caso, pesou a força do meu pátrio poder. A mocidade de hoje não é muito afeita às formalidades, solenidades ou cerimônias. Simplesmente, ela se casou. Contudo, fez questão absoluta de construir o seu lar na Rua do Bem-querer. Peço a Deus que o casalzinho (esteja onde estiver, more onde morar ) jamais abandone ou se esqueça do “bem-querer”, que serviu de base e motivação para o seu enlace.