Muito da autêntica Literatura Brasileira nasceu – e continua nascendo - em afastados lugares, ainda habitados por borboletas e demais belezas miúdas. Germina à sombra de árvores sobreviventes, ao pé de serras ou no alto de morros, quase sempre conservando por vizinhos quedas d’água e cachoeiras.
Ela é nascente, anônima na maior parte da existência. Logo, porém, vira filete, vira riacho, vira córrego; depois, rio que engorda rio e, cada vez mais robusta, viaja em direção ao mar de gente dos grandes centros.
Grande parte da genuína Literatura Brasileira sempre foi, e continua sendo gerada no interior do país.
Até o início do século vinte, a literatura produzida no país pouco foi além do prolongamento ou da imitação da literatura européia. Os indianistas e Machado de Assis foram extraordinárias exceções. Mas foram exceções.
Assim sendo, no meu entender, a nossa literatura autêntica começou em diferentes sítios. Começou, por exemplo, na comarca de Taubaté, com Monteiro Lobato e nosso inesquecível Jeca Tatu. Começou no Engenho Pau D’Arco, com Augusto dos anjos e seu Eu. Cresceu no ritmo das ressonâncias da Semana de Arte Moderna e com as pesquisas folclóricas de Mário de Andrade.
Ela se encorpou com a revelação de engenho, bagaceira e caatinga. Ficou adulta com a descoberta de cacau, suor e sensualismo no Recôncavo baiano. Ficou mais atraente com a presença de lírios perfumando campos e pradarias gaúchas.
E atingiu sua plenitude com o aprofundamento do estudo sobre a alma humana nos róseos sertões e nas roseanas veredas das Minas Gerais.
Toda essa pujança foi divulgada e consumida sobretudo nas grandes cidades.
Uma coisa, no entanto, é indiscutível: toda essa literatura foi gerada e produzida nos rincões, nos arraiais, nas currutelas , nos povoados, nas pequenas cidades do interior.
Luiz Cruz de Oliveira, professor, escritor, autor de 23 livros