Inquietação
Toda vez que o circo levanta a sua tenda, quero seguir a trupe.
Toda vez que um desconhecido me sorri, sinto vontade irresistível de acompanhá-lo, sem saber aonde.
Toda vez que recebo um convite súbito para romper com minha vida, tenho o ímpeto forte de arrumar malas.
Toda vez que me decido por um caminho e viro as costas a outro, me sinto valente, inquieta, angustiada e serena, morro de medo, remorso, tudo junto.
Deslocamentos me desvelam, e, paradoxalmente, me condensam.
A esperança-leoa
Nos dias de hoje precisamos de uma esperança-leoa, indomável, caçadora, que proteja até a morte o território das suas futuras crias, musculosa.
Uma esperança sanguinolenta, que não se entrega, que morre em batalha, esperança-corisco. Selvagem, destemida, veloz na corrida contra o tempo, contra a covardia, contra o cinismo, contra os demônios a corroer a frágil alma.
Esperança-leoa em cada bom espírito, que resguarde a esperança de que a humanidade, através de tudo, sobreviverá.
Amor?
Então é assim? Questão de ampliação de alma? Compactar, acomodar o transformado?
Nada de deficiência, mas de incontinência? Questão de vaso, dilatar a alma na capacidade de amar.
Nada de defeito no amar (amor envenenado, errado, ruim, como leite azedo, ou semente estragada, genética ruim).
Aumentar a possibilidade de reter, de ampliar a reserva, o armazenamento, para usar, distribuir.
Amar para, enfim, intensificar o viver.