Dois gatos preguiçosos tomam o sol das dez da manhã. Balbuciam, rolam, esticam em razão da fadiga matutina e movem-se até encontrar a posição ideal, onde o sol bate deliciosamente em suas barrigas gordas.
Depois do alívio da posição perfeita, ficam olhando as nuvens que trocam o tapete azul do céu, e os urubus que o sobrevoam. Então, quebrando o silêncio, o gato amarelo resmunga:
- Acho injusto. Injusto que esses carniceiros possam ter o deleite de abrir as asas e se sentirem mais altos que o Sol que os ilumina!
Indagou o gato manchado:
- Concordo, mas se você não fosse um gato, gostaria de ser um urubu, apenas para usufruir desta sensação maravilhosa?!”
Após minutos de silêncio e observação, o gato amarelo respondeu:
- Eu queria ser uma águia! As águias são animais furiosos, vivem intensamente rasgando as nuvens do céu e são fortes demais, sabem lidar com suas necessidades. Quando chegam em determinada fase de vida, a águia tem que fazer a escolha de se isolar de tudo que viveu até então e tirar as penas, as próprias unhas, esperar que cresçam e aí retirar o próprio bico. É uma questão de escolha e de sobrevivência.
Então, depois de alguns segundos, ainda vendo os urubus dançando com a brisa da manhã, o gato manchado mudou de posição, e no intervalo em que a pupila dilatou-se, respondeu:
- As águias são parecidas com os humanos.
- Sim, humanos sem asas, concordou o gato amarelo.