A palavra é.
A palavra pode tudo.
A palavra diz o mundo.
O que ela quiser.
A palavra é o anzol
cravado na minha garganta.
Eu grito a palavra.
Eu rumino a palavra.
Eu engulo a palavra.
Só ela, a palavra,
para me sentar nesta cadeira,
por horas esperando
um impulso de rabiscar bobagens.
Abro a gaveta: a palavra.
Entro no banheiro: a palavra.
À mesa do almoço: a palavra.
A palavra é minha esposa.
É minha chefe.
Minha vizinha de frente.
Palavra da qual sou escravo e réu.
Letrinhas (inocentes?) de mãos dadas,
que podem mover multidões;
que erigem imperadores
e destituem déspotas.
Palavra que brinca
De esconde-esconde comigo.
Veste minha ideia de ridículo
E ainda me chamam de poeta.