a vida é mistério crescente,
minguante,
novo e pleno.
como a lua.
a vida é mistério.
é clara e obscura,
é calma e futura,
presente sempre, cheia de passado,
salpicada de agoras,
sem horas de acontecer.
a vida é deserto sem fim,
paroxismo e desespero,
há cactos, no entanto,
em volta de mim...
a vida é floresta embruscada,
caminho sem trilha,
haja coragem e fibra
na travessia distraída.
a vida é mar perigoso,
roseada de histórias,
pedras rolantes,
pedras fixas, corais,
nelas nadam peixes coloridos:
olhos de mergulhador podem ver.
histórias marinhas,
polidas no abandono, no sereno,
na tempestade, na profundeza.
vida é montanha de obstáculos,
teima a férrea vontade
a desalinhar projetos fracos,
a obrigar alpinismos.
quantos recursos tenha,
há que criar túneis,
com fé na empreitada:
rumo mais alto e cordilheiro,
topar o desafio.
aprender, afinal, com experiências
é o desafio maior da vida.
mas quando a vida é rio,
quando flui...serpenteia...
que volúpia e espanto...
terror e êxtase tanto...
carregada pela corredeira,
ameaçada pela cachoeira,
precipício suspeito,
berço uterino,
o veludoso rio acalma, hipnotiza,
narcótico ritmo conduz.
sei que a viagem termina...
sei que as margens estreitam no durante,
e se abrirão infinitas
para salgar, sem limites, corpo e alma.
com graça ou turbulência,
os dois ao mesmo tempo,
sei que diluirei, inconsciente,
calmamente,
no azul de feroz luz.
naufragarei, bem sei,
na água de origem.
eu rio sem saber como viverei.