No Córrego das Pedras, nos sítios do Antônio Jacinto, do Horácio Rosa, a mãe, e o pai, e a vida passavam lições. A mãe apontava o fura-bolo para a bola iluminada que boiava, garantia:
- Lá é a casa de Nossa Senhora... Ela mora bem no meio do clarão...
A lição do pai era seca:
- Guarda o querosene...Está parecendo de dia... pra que acender lamparina?
A vida ensinava diferente: a Lua Cheia era boa, espantava as assombrações que se escondiam na curva do caminho, atrás das moitas, no moirão da porteira.
Um dia – era chegada de Lua Nova – o pai embarcou todo mundo, cavalgaram tumultuadas ondas do êxodo, vieram ancorar neste cais chamado Franca. Animados, o pai, a mãe e a prole toda passearam, sob diferentes luas, no carrossel da produção febril de café e de sapatos que abarrotavam porões de navios e iam alimentar e calçar anônimos em longínquos países. Enquanto o mundo dava voltas e voltas, o tempo trazia necessidades fúteis e conflitos muitos. A Lua Nova foi-se apagando. Virou lua minguante que foi minguando, minguando cada vez mais. A penumbra levou o pai, levou a mãe, lá para a casa de Nossa Senhora.
Longe, lá na roça, lá na beira cais, ficou o menino.
Às vezes, ele aparece, correndo pelo apartamento, cutucando o velho que espera, na cadeira de balanço, a hora de viajar.
O menino puxa-lhe a manga do pijama, quebra o cochilo do ancião, aponta o fura-bolo, quer que ele veja a enorme Lua Cheia que invade a sala.
Pálpebras fazem esforço, abrem semicerradas janelas. O esforço é vão.
A casa de Nossa Senhora fica muito longe.