Dona Josefina era uma velhinha simples e agradável. Usava um lencinho amarrado nos cabelos brancos e ralos, vestia blusa de mangas compridas, uma saia de chita também comprida, trazia nos pés sapatinhos tipo moleca e uma sombrinha debaixo do braço. Magra e um pouco curvada pela idade, atravessava a cidade a pé , sem se importar com a distância.
Sempre que Joselito, seu filho caçula, ficava detido, dona Josefina aparecia e, num lamento só, me convencia a fazer de tudo para libertá-lo. Joselito não trabalhava, vivia às custas da pensão que a mãe recebia e estava sempre envolvido em furtos de pequeno valor, caracterizando com propriedade o ladrão de galinha e por isso mesmo vivia preso.
Mas furtando uma coisa aqui, outra ali, sua ficha criminal foi crescendo e numa das últimas vezes que foi preso, não houve como tirá-lo com a pressa exigida pela dona Josefina.
O tempo passou e de repente dona Josefina apareceu e desfiou seu rosário de lágrimas.
- Vim saber se a senhora pode fazer alguma coisa pelo meu Joselito. Eu preciso dele, estou passando fome.
- Olha dona Josefina, vou fazer o pedido ao Meritíssimo Juiz e levar a senhora até seu gabinete e o resto fica por sua conta. Empurrei a mulher pelo corredor, mandei-a entrar, enquanto fiquei de fora, ouvindo e esperando.
- A senhora quer falar comigo?
- Ah! Doutorinho, eu vim aqui pedir para o senhor soltar meu filho, ele está preso faz tempo e eu estou passando necessidade. Ele é bom para mim, quando está na rua me ajuda.
- Quem é seu filho ?
- É o Joselito, sim senhor.
- Como é o nome da senhora?
- Josefina e sou a mãe dele.
- Olha, dona Josefina, vou ver como anda o caso do Joselito. Se ele estiver com a pena cumprida, eu atendo o seu pedido.
Dias depois o Joselito estava na rua. Entusiasmada com o resultado, de vez em quando, eu empurrava uma mãe de preso, pelo corredor, para implorar clemência ao Magistrado.
Uma tarde após uma audiência, o Juiz pediu para que eu esperasse. Quando a sala ficou vazia, ele me disse:
- Vou pedir-lhe um favor. Não traga mãe de preso ao meu gabinete. Atrapalha o expediente e como sou preso ao cumprimento da lei, às vezes não posso satisfazer o desejo das mães.
Já havia passado algum tempo dos acontecimentos, quando necessitando de um despacho de sua Excelência, dirigi-me ao seu gabinete, mas ao chegar à porta, que esta aberta,vejo dona Josefina em frente à mesa do Meritíssimo Juiz, trazendo a sombrinha debaixo do braço e a mesma ladainha.
Fiquei apavorada. Tão logo a velhinha deixou o local, pedi licença ao Magistrado e entrando disse:
- Excelência, espero que o senhor não pense, que fui eu quem trouxe dona Josefina ao seu gabinete. Há muito tempo não a vejo e não tinha conhecimento de que o Joselito está preso novamente. O nosso encontro nesse momento, foi apenas uma coincidência.
- A dona Josefina aprendeu o caminho.
Ia protestar, quando ele, me interrompendo, disse:
- Não se preocupe. Afinal de contas, quem se importa com eles, a não ser as mães, como dona Josefina?