Muitos centros tem o dia
e não se deixam agarrar
giram e fogem do eixo
estão sempre a mudar
Na luz mal entrevista
esta prévia de manhã:
um vagido de criança
outras vozes anciãs
A faca, o pão, o apetite
o queijo a ser cortado
e outros gostos da vida
que é sempre repaginável
A água fresca da fonte
desenho de ovo estrelado
prato azul de porcelana
o céu lá fora lavado
Dentro de mim a ansiedade
pelas horas que virão:
diluídas, congeladas
ou mitigadas em vão
Todo dia é mistério
de traçado intermitente
de fragmentos pulsantes
da costura exigentes
Inteiro mesmo é o espanto
diante de tudo o que existe
e se refaz em camadas
que diferem a cada instante
Muitos centros tem o dia
e estão sempre a mudar
giram e fogem do eixo
nunca se deixam agarrar
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Sônia Machiavelli é autora de Uma bolsa grená, Estações, Jantar na Acemira e O poço |